Setor enfrenta limitações operacionais enquanto demanda cresce rapidamente.
No Brasil, mais de 80% das exportações passam pelos portos, sendo o transporte marítimo o principal meio para conectar o agronegócio aos mercados internacionais. Apenas no primeiro semestre de 2023, as movimentações portuárias atingiram um recorde histórico de 600 milhões de toneladas, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Porém, o crescimento das exportações está sobrecarregando uma infraestrutura portuária que já opera no limite.
José Perboyre, coordenador de logística da Associação Brasileira de Proteína Animal (APBA) destaca que muitos portos brasileiros já ultrapassaram a capacidade ideal de operação, comprometendo a eficiência logística. Assista ao vídeo abaixo e confira a entrevista na íntegra.
Esse cenário reflete diretamente nos custos, afetando não só o setor de proteínas, como carnes e ovos, mas também outras commodities, como açúcar, milho e tabaco.
Desafios e soluções para o comércio de proteínas
Um dos principais desafios enfrentados é a adaptação dos portos para receber navios maiores, que transportam até 15 mil contêineres. Atualmente, muitos portos brasileiros não possuem profundidade suficiente para receber essas embarcações, resultando em custos adicionais com armazenagem e reconfiguração de cargas em navios menores.
Outro ponto crítico é a perda de “janelas de atracação” devido a atrasos.
“Os portos precisam operar em 70% de sua capacidade para manter a fluidez, mas muitos já ultrapassam 80%, o que compromete as operações”, explica Perboyre.
De acordo com o representante da ABPA, essa situação coloca em risco a competitividade do Brasil no mercado global de proteínas, especialmente diante de concorrentes com infraestrutura logística mais eficiente.
Integração dos modais e investimentos estruturais
A falta de integração entre os modais rodoviário, ferroviário e aquaviário é outro entrave significativo. Perboyre aponta que o acesso ferroviário aos portos precisa ser melhorado para reduzir a dependência do transporte rodoviário, que é mais caro e menos sustentável.
Uma solução prática seria a criação de “hub ports” — grandes portos estratégicos, como em Santos e Paranaguá, capazes de receber navios de grande porte e redistribuir cargas para outros destinos internos por cabotagem. Para viabilizar essa estratégia, é essencial investir em dragagem e modernização dos equipamentos portuários, além de atualizar a legislação que regula a cabotagem e os processos de exportação.
Parcerias público-privadas como chave para o avanço
Embora iniciativas estejam sendo implementadas, como a ampliação de terminais portuários, o coordenador de logística da ABPA ressalta a necessidade de parcerias entre governo, armadores e operadores portuários.
“A ANTAQ tem um papel fundamental como reguladora, mas a colaboração entre os diferentes players é indispensável para adequar a infraestrutura às demandas futuras”, afirma.
Com projeções de crescimento anual acima de 5% nas exportações de proteína animal, o Brasil precisa agir rapidamente para evitar um colapso logístico e manter sua posição de liderança no mercado global.
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