Ligados & Integrados

Terror do avicultor: cascudinhos são comuns, mas devem ser controlados

Falta de higienização adequada nos aviários impulsiona infestação. Insetos são vetores de doenças como a salmonella

Em uma granja de frangos, o intervalo entre lotes dura mais ou menos 16 dias. Hora de descansar? Nada disso. Muitos procedimentos são realizados no período, entre eles, o controle de pragas. E falando nelas, há um besourinho aparentemente inofensivo que não passa despercebidos pelas aves e pelos avicultores. Apesar de pequeninos, os cascudinhos podem colocar em risco a saúde de um lote inteiro e comprometer todo o ciclo de produção.

O Alphitobius diaperinus, o cascudinho, é um inseto exótico nativo da África. Ele veio para o Brasil por navio no meio de grãos e está ligado à avicultura contemporânea. São quatro fases de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e a fase adulta, quando vão se reproduzir. Seu ciclo de vida  é de 89 dias”, explica Pedro Mota, veterinário sanitarista.

Fazer a higienização correta dos aviários é essencial para manter os frangos protegidos. “Se houver infestação, os cascudinhos podem perpetuar possíveis doenças num lote e nos próximos que virão para o galpão”, completa.

Cascudinho
Foto: Canal Rural

É uma preocupação sanitária. O médico-veterinário Maurício Marchi também participou por chamada de vídeo do programa Ligados & Integrados e chamou a atenção para o fato de os cascudinhos serem vetores de doenças como a salmonella e a influenza.

“Pensando no contexto da avicultura de corte moderna, o cascudinho é um dos maiores incômodos. Ele é vetor de bactérias, vírus e fungos, ou seja, agentes infecciosos que em contato com os insetos vão disseminando doenças na cama e na ração e cedo ou tarde acabam causando enfermidades nas aves”, explicou Maurício.

Por se tornarem um atrativo no aviário, os insetos podem ser ingeridos pelos frangos, alterando a conversão alimentar. O desempenho zootécnico do lote fica comprometido. “Quando estão deitadas nas camas, as aves ficam estressadas e incomodadas com a presença do cascudinho. Além disso, trata-se de um inseto que faz galerias para se abrigar tentando se esconder das aves, seus predadores dentro dos galpões, o que pode causar depredação da estrutura do aviário”, afirma Pedro.

Um abrigo com boa temperatura, luminosidade controlada, alimentação e água disponíveis: o excelente ambiente do aviário favorece o desenvolvimento das aves, mas também das pragas, o que torna o controle do cascudinho tão desafiador. Por isso, os galpões devem ser higienizados logo após a saída do lote. Comedouros devem estar limpos para evitar o acúmulo de restos de ração.

“Precisamos destacar que os cascudinhos se alimentam de qualquer tipo de matéria orgânica. Por isso, também é muito importante o granjeiro recolher as aves mortas periodicamente durante o dia”, ressalta Pedro.

Foto: Canal Rural

No aviário que a equipe do Ligados & Integrados visitou em Amparo (SP), bastava mexer na cama para verificar a presença de cascudinhos. Se houvesse sobras de alimentos, provavelmente, o número seria ainda maior. O produtor deve fazer o manejo adequado, já que o inseto pode voar até dois quilômetros e migrar para outros aviários. O administrador rural Paulo Fernando diz que faz uma contagem quinzenal em cinco pontos de cada galpão para controlar a quantidade de cascudinhos. “A gente levanta um prato de ração e observa. De zero a cinco insetos, a infestação é baixa, como a que observamos aqui. De cinco a cem, está na média. Se passar de cem, consideramos uma quantidade alta. Anotamos tudo no livro de registros e, se for necessário, chamamos um técnico para tomar as medidas cabíveis”, explica.

O extensionista Lélio Vieira afirma que é difícil eliminar o cascudinho, mas é possível controlar. “O controle sempre deve ser feito durante os intervalos entre lotes e de forma rápida. Após a saída do último caminhão carregado de aves temos 24 horas para realizar o procedimento, conseguindo aproveitar a temperatura da cama e evitando a fuga dos cascudinhos.  Quanto antes iniciarmos o manejo, melhor. Hoje, a forma mais eficiente de controle é a fermentação da cama. Colocamos uma lona sobre toda a superfície do aviário, envelopamos a cama e passamos inseticida até nos transpasses. O cascudinho que está embaixo vai morrer, assim como os que tentarem escapar. Depois, passamos inseticida na estrutura do aviário, como muretas e pilastras, para matar os demais”, ensina.

A presença dos cascudinhos é comum, mas jamais deve ser considerada normal. O produtor não deve ser acostumar com a presença dos insetos na granja. “Em todos os aviários  a gente encontra cascudinho, mas tem que ser de maneira controlada. Se a quantidade aumentar, vai haver riscos para as aves e para o bolso do produtor, que vai arcar com os prejuízos de uma estrutura danificada”, finaliza Anderson Milani, supervisor agropecuário.

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