Ligados & Integrados

Consciência, mobilidade e conectividade, as chaves para manter o jovem no campo

Ligados & Integrados viajou pelo interior do Brasil para entender as chaves da sucessão familiar

O Ligados & Integrados desta sexta-feira, 21, trata sobre sucessão familiar. O desafio de manter o jovem no campo, que muitas vezes prefere os atrativos dos grandes centros.

O que pode ajudar para que o jovem continue os negócios da família?

Nossa equipe foi até Mogi Mirim, no interior de São Paulo, para conhecer o caso do produtor Elton Jean Leonello Torres e de sua mãe, dona Nair Leonello Torres, que estão prosperando juntos, através do amor pelo agronegócio, que atravessa gerações da família.

Elton, de 32 anos, afirma que a lida na propriedade começou com seu pai. Mas, após o falecimento do patriarca, dona Nair teve que assumir os negócios.

“Quando meu marido faleceu, ele já mexia com laranja. O Elton tinha 12 anos, e eu falei: não vou cruzar os braços. Eu vou à luta. E estamos aqui até hoje”, diz a produtora rural, que também cresceu na roça, ajudando os pais.

Já sabendo desde cedo que queria dar continuidade à história iniciada pelo pai, Elton acabou se formando em Engenharia Agronômica e se tornou de vez o parceiro da mãe nos negócios.

Com os conhecimentos adquiridos pelo curso, ele buscou estabelecer novos parâmetros para a propriedade, procurando diversificar a produção. Foi aí que entrou a avicultura.

A experiência prática da mãe e o conhecimento técnico e digital do filho levaram a família ao sucesso na atividade. O matrizeiro de produção de ovos férteis se tornou realidade em 2014, após muitos estudos. Hoje, a família mantém dois núcleos, com um total de 75 mil matrizes. Cada uma produz cerca de 190 ovos incubáveis.

“Para nós é muito importante a sucessão familiar, pois facilita a comunicação com o extensionista”, afirma o gerente de agropecuária Bueno Marcondes Ferraz. “Hoje as granjas têm um nível tecnológico avançado e uma formação técnica ajuda a gente a conduzir o plantel muito bem”.

Dona Nair, que às 4h30 já está de pé, continua focada na produção de laranjas, mas de olho na granja. Com essa atitude, ela inclusive consegue otimizar os gastos, utilizando a cama das aves na adubação do pomar, por exemplo.

A mãe se sente muito orgulhosa com a trajetória do filho à frente do negócio com matrizes e conta que já estão pensando no terceiro galpão. “Quando meu marido morreu, ele deixou 50 hectares e hoje já temos 170 hectares, com muita luta. Tenho 60 anos e não penso nem parar. Sou feliz aqui”, afirma.

Os planos já atingem a nova geração da família: Elton conta que tem um filho de 7 anos e espera que ele possa seguir a profissão de produtor rural, se ele gostar.

Outro caso bem sucedido de sucessão familiar é o do jovem casal Daniel e Carine, que são granjeiros em Itapiranga, Santa Catarina. No caso deles, a conectividade e a mobilidade foram fatores fundamentais para se manterem no campo. Dessa forma, é possível se ausentar da fazenda e acompanhar o andamento das instalações remotamente.

O casal afirma ainda que o acesso à internet também é importante para o lazer, para bater papo com a família e amigos, assistir filmes e acessar as redes sociais.

Daniel e Carine também destacam que a decisão de voltar para o campo, após terem passado por grandes cidades e terem estagiado em outro estado, ocorreu principalmente pela qualidade de vida do interior.
Segundo eles, trabalhar na empresa da família dá uma certa liberdade de atuação. A confiança da família para que assumissem os negócios, aliás, foi fundamental. “Eu acho que foi bem legal no nosso caso o que aconteceu, porque a família, os pais demonstraram uma confiança em nos mostrar que é possível, que a gente consegue atingir os objetivos que eles também almejavam”, diz Daniel.

André Ricardo Cardoso da Silva, consultor do Sebrae, especialista em sucessão familiar, acredita que o grande desafio no campo ocorre quando o jovem deixa a roça para estudar. Ao ficar longe da propriedade, do dia a dia e da família, acaba por vezes se desconectando da vida rural.

A rotina na cidade, diz André, faz o quem que ele esqueça um pouco de suas origens, o que dificulta ainda mais o retorno para o campo.

Para o especialista, é preciso que desde criança o jovem seja inserido no contexto do campo, para não haver esse tipo de desconexão. Os pais devem mostrar a importância do negócio na vida de todos, que é dali que é garantido o sustento e a qualidade de vida da família.