A logística brasileira já é desafiadora. Agora, em meio a pandemia do novo coronavírus, piorou. O problema não é nem a possibilidade de uma cidade ou estado impor barreiras nas estradas. O que aconteceu em mais de uma região do Brasil na semana passada. A falta de estrutura pra trabalhar é o que dificulta. Problema enfrentado por caminhoneiros como o Idenio Subtil, de Vacaria (RS). Ele disse que muitos estabelecimentos como oficinas e borracharias estão fechados. “A gente tem medo de ficar na mão”, afirmou. Já Eliana de Lima, de São Paulo (SP), está viajando há 90 dias e ainda não conseguiu passar na sede da transportadora para retirar álcool em gel. “E está bem difícil encontrar o produto para comprar. Acho que merecemos mais atenção”, comentou.
Para Rodolfo Rizzotto, especialista em transportes, o ministro Tarcísio de Freitas está empenhado em resolver os problemas dos profissionais da estrada. “Da mesma forma que os caminhoneiros são fundamentais nesse momento, tem que dar condições de trabalho aos borracheiros, donos de restaurantes e oficinas. Eles têm tanto valor quanto o caminhoneiro. Falamos muito nas concessionárias rodoviárias e nos postos de combustível, mas embarcadores, onde eles vão carregar e descarregar, devem oferecer um banheiro limpo e segurança. É hora de todo mundo dar sua contribuição, dentro da sua capacidade. Os profissionais que representam a classe são os que estão na estrada enfrentando dificuldades. De vez em quando lamentam, o que é compreensível, mas estão contribuindo muito para o nosso país”, afirmou.
Victor Ikeda, analista de mercado, também comentou as incertezas dos transportadores de grãos em relação às operações logísticas no país. Alguns municípios tentaram limitar o tráfego de caminhões, contrariando as medidas do Ministério da Infraestrutura para garantir a livre circulação de mercadorias. “O nível federal prevalece, o que reduz os impactos da logística de grãos. Vale monitorar, é um ponto de atenção. O consumo de milho está concentrado basicamente em regiões do sul do país por conta da produção de aves e suínos. O Rio Grande do Sul enfrentou problemas climáticos para a safra do grão, então, pode ser necessário buscar um volume maior em estados no Centro-Oeste. Se os caminhoneiros encontrarem bloqueios no trajeto e o escoamento for prejudicado, os custos de produção podem se tornar ainda mais altos, o que significa um preço mais elevado para o consumidor final”, afirmou.
Os custos de produção já estão altos no Brasil. Por conta da queda na produção do milho, o preço da ração subiu. De acordo com indicadores da Esalq, a Escola de Agricultura da USP, em Piracicaba (SP), o grão acumulou alta de 11,74% na pesquisa parcial de março. “Os níveis de paridade de exportação estão elevados em função da taxa de câmbio. Por outro lado, temos estoques de milho relativamente mais apertados aqui no Brasil. Viemos de 2019 com demandas interna e externa muito fortes e, apesar da produção recorde, os estoques acabaram reduzindo. Isso faz com que, nesse o momento, o mercado interno esteja pagando um prêmio sobre exportação. Eu diria que a paridade de exportação e o nível da taxa de câmbio podem acabar impactando principalmente a entrada do milho safrinha mais para a frente”, explicou.