Ela começou trabalhando como empregada doméstica, depois se tornou cozinheira. Na sequência conquistou uma vaga de auxiliar de escritório em uma fábrica de equipamentos para granjas de suínos. Iniciou os estudos, e… a vida mudou completamente. Márcia Stülp queria conhecer outras regiões além do extremo oeste catarinense, mas o patrão não permitia. “Queria ver como era, tentar entender, fui me interessando. Até então, eu não sabia nem o que era uma barra de ferro. Comecei a fazer vendas, até abrir minha própria empresa”, conta Márcia. Dez anos depois, a suinocultura vai muito bem, obrigada: hoje, são 600 fêmeas na granja de matrizes. Com uma equipe de 52 funcionários, a empresa atende todo a região Sul.
O começo não foi fácil. Além das dificuldades que todo mundo enfrenta ao iniciar um negócio, Márcia encontrou barreiras bem comuns para mulheres que tentam acessar um setor predominantemente masculino. “Meu Deus do céu, você tinha que ver, comecei com uma mesinha velha no escritório, não tinha nada, eu anotava tudo no caderno, as entradas e saídas, fazia tudo manual. Daí eu fui abrir uma conta no banco, bem humilde. Mas antes mesmo de trabalhar com vendas, eu sempre quis ter uma granja. Eu enfrentei bastante preconceito no início. Eu não entendia nada, mas comecei a estudar”, diz Márcia.
Em um ano a granja se tornou referência. Hoje, as 600 fêmeas têm, em média, 35 leitões por ano, um número acima da média: no modelo automatizado, como o de Márcia, o comum são 33. No propriedade, é tudo muito moderno. Hyago Rohr, o filho, já se tornou gerente e também sócio nos negócios.
“O Hyago tem a parte dele, mas também tem a remuneração. Acho que isso é muito importante quando falamos em sucessão familiar. Não podemos permitir que os filhos fiquem em casa trabalhando de graça, é uma relação profissional, um emprego como qualquer outro. Na rotina na granja ele só me chama de Márcia, acho até que assim demonstra respeito às pessoas que estão em volta”, pondera a mãe. “É, tem que ter um retorno financeiro. E durante o trabalho, nós nos tratamos como colegas”, concorda Hyago.
O marido, Ronei Terhorst, que veio de uma família de suinocultores, é o outro sócio. Além de apaixonado, Ronei apoia a esposa nos negócios e não dá espaço para o preconceito. “O empreendedorismo está no sangue dela, que é uma pessoa muito comunicativa e que conhece os clientes há muito tempo. Conhece também os equipamentos, porque já trabalhou em uma empresa do setor no início de tudo, antes de montarmos a nossa granja. Nós aprendemos juntos. Todo mundo vai aprendendo, e a empresa vai crescendo”, diz Ronei.
Mulheres do Agro
Nos estúdios do programa Ligados & Integrados esteve presente Joanita Maestri Karoleski, formada em tecnologia da informação e com mais de 30 anos de experiência no agronegócio. Além dela, o programa também recebeu Roberta Paffaro, jornalista, economista e autora do livro Mulheres do Agro. Joanita, que foi presidente da Seara no Brasil, contou que durante toda a trajetória profissional se impôs buscar o máximo de conhecimento para compartilhar com outras pessoas, o que foi determinante para alavancar sua carreira.
“Isso me deu segurança para driblar o preconceito. Na década de 80 e 90 não havia muitas mulheres na área de informática, e eu aprendi muito me preparando para ocupar meu espaço e para conquistar o respeito. Situações que eram críticas no começo, depois se tornaram naturais. Eu gostaria de aproveitar para parabenizar todas as mulheres guerreiras e dizer que a mulher não tem que assumir todas as responsabilidades para si. Divida mais”, disse Joanita.
Roberta concordou, e completou afirmando que as mulheres precisam se posicionar. “Não podemos nos vitimizar. Precisamos nos preparar. Antigamente, a mulher tinha que se desculpar por sair do trabalho mais cedo por causa de um filho doente, por exemplo. Hoje, creio que isso já está incorporado dentro das empresas. Além disso, responsabilidades assim também devem ser preocupação dos homens. A mulher está quebrando barreiras e incorporando mudanças dentro das empresas e em um novo modelo de sociedade”, afirmou.