O olhar atento não deixa um detalhe escapar. Tudo o que os leitões precisam nas primeiras horas de vida, os produtores, as produtoras, além das matrizes, estão prontos para fornecer. São cuidados muito específicos. “Aqui na granja, após o parto, todos os leitões são secados com um pó especial. Os umbigos são desinfetados com álcool iodado. Cuidamos para não haver problema de hemorragia umbilical e para que não fiquem anêmicos, pálidos ou acabem morrendo. Colocamos os animais junto à mãe o mais rápido possível para fornecer calor e colostro. Além disso, eles precisam ter um papelão sequinho para não escorregar”, explica Gisele Cristina Kich, suinocultora de Travesseiro, RS.
Primeiro leite e ambiente aquecido
O colostro é o primeiro leite fornecido pelas matrizes entre seis a oito horas após o parto. Nele está tudo o que o leitão precisa, como as vacinas de imunidade e os nutrientes. “Cuidando do colostro e do calor, a vida do animal será mais longa, porque ele cria bastante resistência”, diz Gisele.
O calor é fornecido por uma campânula simples, feita com lâmpada. “Os filhotes ficam embaixo dela e não correm risco de a fêmea esmagar quando se levanta para comer. Isso nos primeiros dias de vida, quando ainda não conseguem medir a temperatura do corpo e ter noção se está frio ou quente. Depois, com dois ou três dias, eles passam a entrar no escamoteador, que é como uma casinha com tapete de madeira forrado com papelão. Há uma lâmpada incandescente para manter o ambiente aquecido”.
Desmame
De uma em uma hora ou a cada 45 minutos, os leitões mamam e voltam para o escamoteador. As matrizes não necessariamente alimentam seus próprios filhos. Os animais são agrupados de acordo com as necessidades de cada um. “Os leitões são separados por tamanho. Uma fêmea maior, com maior aparelho mamário e que saia todas as tetas, precisa ter leitões grandes que consigam sugar. Assim, conseguimos desarmar o maior número de leitões. Já uma fêmea mais dócil fica com os filhotes menores, que têm mais dificuldade. Ela deve ter um aparelho mamário mais firme e nenhum filhote pode ficar sem teto”. O agrupamento também evita disputa e atrito entre os animais.
A cauda dos animais chama a atenção dos filhotes. Para evitar mordidas e machucados, o rabinho é retirado e cauterizado. O manejo tem que ser realizado com calma e tranquilidade para não estressar os filhotes e as mães. “Às vezes, no parto, elas ficam estressadas, agressivas, mas aí fazemos um calmante e tudo se resolve”, comenta Gisele. Em média, são 13 leitões com cada fêmea. Os produtores contam o número de tetos da fêmea e deixam o mesmo número de leitões, sempre observando se não há tetas secas. “Cuidamos para os animais não refugarem e não ficarem para trás”, diz.
Sem stress
Não basta cuidar bem dos animais. As instalações da granja têm que estar em perfeito estado. “Sempre mantemos o escamoteador e as laterais das baias limpos. A fêmea deve estar bem alimentada para não ficar estressada. O ambiente deve ser tranquilo e arejado. Sem contar que aqui todo mundo gosta de trabalhar, o pessoal é dedicado. Isso é muito importante”, destaca Gisele. Para ter bons resultados, caprichar no manejo é obrigação. Mas a suinocultura vai muito além. Tem a ver com vocação. “Eu gosto. Tem que cuidar, aquecer, ajudar a mamar, é uma coisa boa. O trabalho é 24 horas e temos um pessoal que trabalha em turnos. Tem sempre alguém cuidando para a granja nunca ficar sozinha”.
Hoje, na granja da família da Gisele, há cerca de 1220 fêmeas. A cada 14 dias nascem entre 1500 e 1600 leitões. Gisele e a sogra olham um por um para verificar se há animais precisando de cuidados especiais. “A gente trabalha em conjunto, e uma complementa a outra. Temos que ter atenção especial com todos. Se algum ficar para trás, a gente faz uma marcação na ficha com as informações. Todos têm uma ficha individual com observações sobre os leitões e as fêmeas. Assim, temos um controle. Estamos sempre de olho e, antes que o filhote emagreça muito, retiramos ele e passamos para outra mãe”, finaliza.
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