O Ligados & Integrados foi até o Sul do país visitar uma das regiões brasileiras com maior índice de desenvolvimento humano. São João do Oeste, no extremo oeste catarinense, é uma típica cidade alemã. Por lá, o povo é muito educado: a taxa de alfabetização é de 99,8%, segundo o Censo de 2012. De acordo com o aposentado Elemar Hahn, que fala alemão, as pessoas sempre se cumprimentam e a cidade não registra crimes. Desemprego também não é um problema por lá, afinal, há vagas sobrando no município. O forte é o agronegócio. Setenta por cento de toda a movimentação econômica vem das agroindústrias. O município arrecadou no ano passado quase R$ 430 milhões, 11% a mais que em 2018.
O prefeito Fernando Bisigo diz que, assim, fica até fácil trabalhar. “De um lado, a gente sabe que vai ter um retorno garantido. Mas, por outro lado, tenho a responsabilidade, como gestor público municipal, de incentivar, fomentar e fazer com que as coisas aconteçam para o agronegócio. Uma indústria ou o interior da cidade indo bem, o agronegócio indo bem, o comércio e o turismo também vão bem, é consequência. É só analisar o cenário nacional, as últimas crises que aconteceram no país, e perceber que o que tirou o Brasil da crise sempre foi o agronegócio”, avalia.
A última aposta da administração é uma indústria de laticínios, que pretende contratar centenas de trabalhadores. Neusa Specht, vigilante epidemiológica, já percebe as consequências do investimento na cidade: “Quando a gente vai fazer as visitas nas casas, sempre tem muita gente de fora. O município precisa crescer mais em questão de lugares para as pessoas virem morar, né? Precisa construir mais prédios para alugar, mas isso já está sendo feito aos poucos feito”, observa.
Aos poucos mesmo, porque habitações esbarram em leis ambientais. Problema parecido se passa em Itapiranga, cidade vizinha que tem dois frigoríficos onde trabalham 3.600 funcionários. Metade deles mora pelas redondezas, incluindo municípios do Rio Grande do Sul. Quase mil atravessam o Rio Uruguai todos os dias. Interessante é saber que mais de 260 venezuelanos mudaram de vida radicalmente desde 2018.
“O primeiro grupo chegou em 17 de dezembro e logo em seguida iniciaram o trabalho, em janeiro de 2018. Agora, em janeiro de 2019, completaram um ano. No início eram trinta venezuelanos, hoje nós estamos com mais ou menos 230 aqui na nossa unidade de aves em Itapiranga. Também temos aqui a unidade de suínos, onde há em torno de 20 a 30 venezuelanos”, conta Lais Regina Jaeger, Analista de Recursos Humanos.
Como receber tanta gente? A força do setor de aves e suínos se uniu às lideranças políticas para criar uma solução: o Conselho Intermunicipal de Desenvolvimento Regional. Significa que o estado de Santa Catarina deu aval para os municípios do extremo oeste decidirem sozinhos pelas obras de expansão, desde que com análises técnicas de sustentabilidade.
“Nós temos inúmeros profissionais. São dois engenheiros agrônomos, três médicos veterinários, enfim, temos toda uma secretaria que dá suporte também na área técnica. Temos que estar na mesma velocidade da agroindústria e da exigência internacional, ou seja, dos mercados internacionais, especialmente nas questões sanitária e ambiental, que representam hoje fatores de alta competitividade. Nós tentamos fazer a nossa parte. Desde janeiro de 2020 o licenciamento ambiental para as nossas atividades ambientais e também para as atividades do meio urbano são expedidos através do Conder (Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Regional). Temos muito a comemorar, porque isso nos dá celeridade e garante nossa competitividade”, finaliza Herwald Trebien, secretário de Agricultura de Itapiranga.