Quem já esteve em uma granja ou em um incubatório, sabe que não tem negociação. Os acessos são controlados e todos os envolvidos em pelo menos uma das etapas de produção precisam cumprir uma série de exigências por motivos de segurança alimentar. Em visita a uma granja de matrizes em Amparo (SP), a veterinária Isabela Beloti explicou como funcionam algumas barreiras sanitárias que delimitam a área suja, ou seja, a área externa da granja, da área limpa, onde os procedimentos de higiene são imprescindíveis para garantir a saúde das aves.
De acordo com Isabela, o banho é uma das principais barreiras sanitárias para evitar o trânsito de contaminações entre as áreas suja e limpa. Isso porque o homem é um dos principais veiculadores de patógenos, e pode carregar bactérias, por exemplo, por meio dos calçados, das roupas, pela pele e até pelos cabelos. “Nos vestiários, há uma estrutura externa para deixar os sapatos. Na área suja, também deixamos roupas e acessórios, como brincos e colares. Já na área de transição, o colaborador deve seguir as instruções do banho para posteriormente passar à área limpa, onde vai utilizar toalha e uniforme próprios da granja. Os limites entre as áreas são bem definidos”, explica a veterinária.
Ao final do dia, o colaborador destina a roupa suja diretamente à lavanderia por meio de um acesso no vestiário. “Depois, as roupas vão secar em uma máquina que atinge altas temperaturas. O procedimento auxilia na desinfecção do uniforme e evita a secagem em ambiente externo, sujeito à contaminação”, destaca Isabela. Já o corredor sanitário é uma estrutura telada que separa as áreas dentro do núcleo de produção e protege a entrada de animais, principalmente pássaros, possibilitando a livre circulação entre os aviários.
Todo material que entra e sai da granja precisa ser lavado e desinfetado. Ao chegarem, os caminhões de ovos passam pelo arco de desinfecção e, em seguida, cada bandeja trazida também é imersa em um recipiente com desinfetante. Isabela também alerta para a necessidade de barreiras contra bactérias e roedores. “Além da cerca com alambrado, uma cerca antirrato com sessenta centímetros de placa de concreto abaixo da terra impede a entrada de roedores que tentam escavar. Já uma chapa de zinco impede as tentativas de escalada, fazendo o animal escorregar ao tentar entrar na granja. Barreiras vegetais impedem a entrada de patógenos pelo ar, já que veículos em trânsito podem trazer resíduos na parte externa”, afirma.
O processo de compostagem também é obrigatório para evitar o contato das aves vivas e saudáveis com as aves mortas em decorrência de contaminação. O procedimento deve ocorrer sempre ao final do dia. “As aves mortas são levadas ao desidratador. Os resíduos caem diretamente na composteira, que é manejada e totalmente fechada até o final do lote, com portões à prova de animais e insetos”, orienta.
As barreiras sanitárias auxiliam na proteção, mas as medidas de segurança só são eficazes quando os produtores fazem a sua parte. Sem obedecer aos procedimentos de segurança, não adianta investir em uma boa estrutura. Segundo o médico veterinário Marcus Back, as medidas de biosseguridade nas granjas de matrizes são de extrema importância. “Uma matriz produz em torno de 190 ovos durante sua vida produtiva, e os procedimento de biosseguridade evitam que doenças cheguem até às granjas onde estão alojadas. Hoje, algumas doenças podem comprometer todo o ciclo de produção, afetando a programação de alojamentos, e até nos obrigar a abater todo o plantel por questões de saúde pública. São prejuízos que o produtor, a empresa e até os consumidores sentem no bolso. As medidas de biosseguridade funcionam como uma corrente, e nenhum dos elos pode ser quebrado. Nada é mais urgente do que manter a biosseguridade”, disse o profissional.