Até recentemente, o Brasil era totalmente dependente de importações de material genético suíno do hemisfério norte. O país precisava trazer animais geneticamente melhorados de países como Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental, que possuíam granjas de alto nível tanto genético quanto sanitário.
Alexandre Rosa, diretor executivo da Agroceres PIC, explica como essa dependência diminuiu com o fortalecimento do setor no Brasil. Assista ao vídeo abaixo e confira a entrevista na íntegra.
Programa de Quarentena e Genética Local
A primeira grande mudança ocorreu quando as empresas de melhoramento genético do Brasil firmaram um acordo com o Ministério da Agricultura, que fortaleceu o programa de quarentena oficial na Ilha de Cananéia, litoral sul de São Paulo.
Todos os animais importados passavam por essa quarentena, onde permaneciam por 30 dias, sendo submetidos a exames rigorosos conduzidos por fiscais e veterinários do Ministério.
Caso algum animal apresentasse sintomas clínicos ou exames de sangue suspeitos, ele não entrava no território nacional. Esse processo garantiu não apenas o alto nível genético dos animais no país, mas também uma sanidade exemplar. Assim, o Brasil, que já era livre das principais doenças virais que afetam os suínos, pôde começar a desenvolver seu próprio material genético de alta qualidade.
Granjas Núcleo e Início das Exportações
Nos últimos três anos, o Brasil deu um passo além, estabelecendo suas próprias granjas núcleo, que são instalações de altíssimo nível genético e sanitário. Isso permitiu ao país começar a exportar material genético suíno para outros países da América Latina, como Argentina, Paraguai e Bolívia. Alexandre Rosa destaca que o Brasil está em fase avançada de negociações com mercados ainda mais distantes, como México, Rússia, Canadá e China.
Esse crescimento no setor é impulsionado pelo fato de o Brasil ser o quarto maior produtor de carne suína no mundo, o que facilita o investimento em melhoramento genético dentro do país.
Para o produtor brasileiro, essa independência em relação à importação de material genético significa uma maior competitividade e autossuficiência.
Genética e o Impacto na Sustentabilidade
A genética não é apenas uma ferramenta para melhorar o crescimento e a quantidade de carne produzida por animal, mas também para aumentar a eficiência do uso de recursos.
O especialista destaca que a alimentação, principalmente composta de milho e soja, representa cerca de 75% do custo total de produção de suínos no Brasil e no mundo. Portanto, o melhoramento genético visa otimizar o uso dessa ração, permitindo que os animais consumam menos para ganhar o mesmo peso.
Essa melhoria na conversão alimentar traz ganhos expressivos para toda a cadeia produtiva. Rosa menciona que, em uma década, a quantidade de ração necessária para produzir um quilo de peso vivo caiu de 3,2 kg para 2,2 kg, o que representa um salto impressionante em eficiência. Além disso, os animais estão crescendo mais rapidamente e utilizando as instalações por menos tempo, o que reduz o uso de energia, mão de obra e outros recursos.
Outro avanço significativo proporcionado pelo melhoramento genético foi o aumento do número de leitões por leitegada. Antigamente, uma boa leitegada contava com 13 ou 14 leitões. Hoje, esse número subiu para 16 ou 17 leitões por matriz, utilizando a mesma quantidade de ração.
Transformação Estrutural e Adaptação às Novas Tecnologias
Rosa relembra que, no passado, havia uma preocupação de que os suínos precisavam ser robustos e rústicos para se adaptarem às condições locais. Porém, hoje, a abordagem é outra: as estruturas de produção devem ser adaptadas para maximizar o potencial dos animais geneticamente melhorados.
Isso exigiu investimentos em instalações modernas, controle de temperatura e climatização, além de melhorias na nutrição.
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