Pesquisadores, indústrias, produtores e organizações não governamentais têm investido na introdução de “brinquedos” nas instalações em que os suínos são criados para reduzir os efeitos do confinamento intensivo.
“Brinquedo é como se chamam os elementos colocados nas baias com a intenção de permitir que esses animais expressem comportamentos naturais, iguais aos que eles teriam se estivessem soltos na natureza”, explica o pesquisador Osmar Dalla Costa, da Embrapa Suínos e Aves.
Bem-estar
Investir em elementos de enriquecimento ambiental, como os brinquedos, nas instalações em que há criação dos suínos é uma espécie de segunda onda do bem-estar animal na suinocultura brasileira.
A primeira onda teve início em meados dos anos 2000 e focou na melhoria das condições básicas disponibilizadas aos animais do nascimento ao abate – espaço adequado, temperatura, qualidade do ar, limpeza, transporte e tratamento humanitários.
Qualquer modificação que aumente o conforto do ambiente (como a diminuição no número de animais por baia ou a instalação de ventiladores) pode ser vista como uma ação de enriquecimento ambiental.
“O ambiente em que o suíno está inserido muitas vezes é monótono. Por isso, quando ele vive apenas com suas funções básicas como comer, dormir, sem conseguir desestressar de alguma forma, como exibem como mastigar com a boca vazia, ranger os dentes, morder barras de ferro ou lamber o chão”, destaca Costa.
O pesquisador ainda ressalta que problemas como a caudofagia (quando um ou mais animais na baia sofrem mordeduras e consequentes lesões na cauda), podem ocorrer por conta do estresse acumulado.
Quanto custa instalar “brinquedos”?
Quase todos os interessados em bem-estar animal, quando pensam em introduzir “brinquedos” para suínos, tentam primeiro dimensionar quanto custarão as mudanças. Afinal de contas, ações de enriquecimento ambiental representam custo extra ou oportunidade de ganho?
O pesquisador ressalta que as ações de enriquecimento ambiental (especialmente a introdução de brinquedos) funcionam preferencialmente em ambientes que estão sofrendo perdas por problemas gerados pelo confinamento intensivo.
Um estudo de 2016 feito na União Europeia mostrou que os custos associados a mordidas de cauda e orelhas atingiram 18,96 euros por animal agredido, o que equivale atualmente a, aproximadamente, 95 reais. Essa perda compromete em até 43% o lucro por animal afetado.
Além disso, pode haver uma redução no ganho de peso diário em suínos em crescimento com mordida de cauda entre 1% a 3%. Esses dados significam que cada animal afetado por problemas de confinamento intensivo representa uma oportunidade de redução de perdas econômicas. Por outro lado, medidas de enriquecimento ambiental, sem dúvida, não saem de graça.
Por exemplo, o programa “Heart Pig”, que aplica várias medidas de bem-estar animal na Dinamarca, apresenta custos de produção 7,9% maiores que os da produção convencional naquele país.
Porém, experiências no Brasil ensinam que a introdução de brinquedos nas instalações não representa o maior investimento das propriedades que passaram a investir em enriquecimento ambiental.
Na verdade, o que mais custa é o investimento em tempo de trabalho para gerenciar o esforço extra representado pela manutenção dos elementos de enriquecimento, o monitoramento mais próximo do comportamento dos suínos e o treinamento da equipe em boas práticas de produção com foco no bem-estar animal.