POR RICARDO SANTIN

Influenza Aviária: não podemos baixar a guarda

O ano de 2023 foi histórico para o Brasil avícola. A Influenza Aviária chegou, pela primeira vez, em nosso território

Desde o primeiro registro de uma ave marinha no Espírito Santo, foram mais de 150 ocorrências, com a maior parte absoluta em aves silvestres e apenas três em aves de subsistência, não chegando na produção comercial.  

Os números acima são a leitura de um trabalho bem-sucedido, de excelência. O Brasil segue como único grande produtor a nunca registrar casos de Influenza Aviária na produção industrial.  Em quase todas as outras nações produtoras, ocorrências em animais silvestres, inevitavelmente, alcançaram as granjas.  No caso do Brasil, contudo, a biosseguridade, que é a palavra de ordem, fez o diferencial e tem sido cumprida à risca por todos os elos do setor produtivo.

Esta sensação de segurança é importante para os negócios e para seguirmos avançando como um dos principais players do comércio internacional.  Nos permite planejar nossa estratégia com base em ganhos produtivos, sem o peso das perdas geradas pelas travas ocasionadas pelos focos, como vimos ocorrer com outros grandes exportadores. 

Aqui reside um enorme perigo.  Estabelecer uma ideia de que a Influenza Aviária nunca alcançará as nossas granjas pode trazer certa “flexibilização” de medidas que, definitivamente, não são bem-vindas.  

É pensar, por exemplo, que não há problema em uma visita inesperada adetrando o espaço dos galpões.  Afinal, se nunca ocorreu, porque aconteceria agora em que estamos quase sem registros da enfermidade do país. Ou talvez, a ideia de que os procedimentos de higienização para acessar o espaço de produção não precisam de tanto rigor.  Mais ainda: após viagens para países onde há registros da enfermidade, pensarmos que cumprir período de quarentena é um exagero. 

Influenza Aviária: não podemos baixar a guarda
Foto: Gov.br

É por dentro da “zona de conforto” que chegam os problemas. A equivocada sensação de segurança é um catalizador de erros que não podemos cometer.  Por isso, é preciso reforçar constantemente os alertas.  

Pela ABPA, temos mantido uma rotina sobre essa memória que não pode se perder.  Antes da IPPE (maior feira do setor avícola no mundo) e da Gulfood (maior feira de alimentos do Oriente Médio), disparamos alertas para a cadeia produtiva quanto à necessidade de manutenção dos cuidados ao retornar para o Brasil. 

Também iniciamos novas campanhas focadas não apenas na propriedade, como também nas áreas litorâneas.  Seguimos sustentando a temática na imprensa, para que as pessoas lembrem: o vírus desperta em nosso cochilo.  

É preciso celebrar as nossas conquistas com os mais elevados níveis de biosseguridade aplicados dentro do Brasil.  Mas não podemos nos descuidar quanto aos riscos que um desvio nos protocolos de biosseguridade possa nos causar.  Afinal, que as palmas que batemos para o nosso sucesso sejam, também, para nos manter alerta perante este que é o maior desafio da indústria avícola global.

Ricardo Santin
Foto: ABPA

Por Ricardo Santin, Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) desde agosto de 2020. Antes, vice-presidente da ABPA, desde abril de 2008. Vice-presidente do International Poultry Council – IPC trabalhando com outros países produtores de aves e organizações internacionais como FAO, CODEX e OIE. Presidente do IEPIM – Instituto de Estudos Políticos Ildo Meneghetti e palestrante em diversos eventos internacionais como World Poultry em Londres e Bangkok, Wings of Change em Paris, USAPEEC Meeting nos EUA, entre outros.

O Ligados & Integrados está na tela do Canal Rural de segunda a quinta-feira às 11h45 e sexta-feira às 11h30.

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