No cenário atual, onde a busca por práticas mais sustentáveis permeia a indústria alimentícia, não é raro que determinados grupos permeados por raciocínios protecionistas lancem a questão: um mundo sem exportações seria a resposta para um futuro mais verde e livre da fome?
Propostas como a preferência por alimentos locais, muitas vezes defendidas com um tom de “sempre a melhor opção”, ganham espaço em discursos e campanhas. No entanto, será que essa lógica se sustenta quando analisamos os diferentes contextos e realidades de cada país?
Para além da origem do produto, diversos outros fatores influenciam diretamente em sua pegada ambiental. No caso da carne de frango, por exemplo, a matriz energética utilizada nas granjas é crucial para determinar o impacto ambiental da produção.
Enquanto países como o Reino Unido baseiam-se em sistemas de gás, que sofreram com aumentos drásticos devido ao conflito no Leste Europeu, o Brasil avança na adoção de energia solar, com empresas já utilizando o modelo em mais de 60% das suas unidades.
Outro ponto fundamental é a autossuficiência em relação aos insumos. O Brasil, por exemplo, possui ampla oferta de milho e soja, componentes básicos da ração das aves, enquanto países europeus precisam importar esses itens.
Dados do Departamento de Agricultura do Reino Unido (DEFRA) revelam que a produção de frango no Brasil emite 45% menos gases de efeito estufa do que no Reino Unido. Mesmo após o processamento, transporte e venda no Reino Unido, a carne brasileira ainda apresenta menor impacto ambiental.
Limitar as importações, além de prejudicar o consumidor com preços mais altos e menor variedade, pode trazer consequências ainda mais graves. No caso do Reino Unido, por exemplo, aumentar a produção local para suprir toda a demanda por peito de frango geraria um excedente de 2 milhões de toneladas de outros cortes, causando um desequilíbrio no mercado e perdas significativas para os produtores.
O livre comércio internacional visa justamente suprir as necessidades de diferentes regiões, aproveitando as vantagens comparativas de cada país. Nações com características favoráveis podem produzir mais, com menor impacto ambiental, e atender à demanda de regiões onde a produção local não é viável.
Promover a competitividade no mercado global, garantindo a segurança alimentar e combatendo o protecionismo, é fundamental para alcançarmos um futuro verdadeiramente sustentável.
Ao invés de mitos e protecionismos, a busca por práticas mais sustentáveis na indústria alimentícia deve se basear em dados concretos, análises de ciclo de vida e na busca por soluções inovadoras que considerem as realidades e características de cada país.